domingo, 18 de janeiro de 2015

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio

Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado
Índice:
  1. “Todos os sacerdotes somos Cristo”. Eucaristia e identificação com Cristo
  2. “Empresto ao Senhor minha voz”. Familiaridade com a Palavra e disponibilidade para as almas
  3. “Empresto ao Senhor minhas mãos”. Amor a liturgia e obediência à Igreja
  4. “Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Sacerdote cem por cento
Fazer a Deus presente em todas as atividades humanas é o grande desafio dos cristãos num mundo secularizado, e é a tarefa que São Josemaría recordou a milhares de pessoas – sacerdotes e leigos – durante a sua vida. Sua mensagem pode resumir-se em poucas palavras: santidade pessoal no meio do mundo.
Jesus Cristo se fará presente e ativo no mundo quando: nas famílias, na fábrica, nos meios de comunicação, no campo…, na medida em que Cristo vive no pai e na mãe de família, no trabalhador, no jornalista, no camponês…, isto é, na medida em que o trabalhador, o jornalista, o esposo ou a esposa sejam santos. Como afirmou João Paulo II, “é necessário arautos do Evangelho expertos em humanidade, que conheçam a fundo o coração do homem de hoje, participem de suas alegrias e esperanças, de suas angústias e tristezas, e ao mesmo tempo sejam contemplativos, enamorados de Deus. Para isto são necessários novos santos. Os grandes evangelizadores (…) foram os santos.Devemos suplicar ao Senhor que aumente o espírito de santidade na Igreja e nos mande novos santos para evangelizar o mundo de hoje”. (Discurso ao Simpósio de Bispos europeus, 11.10.1985).
Este é o segredo diante da indeferença e do esquecimento de Deus: nosso mundo precisa de santos, qualquer outra “solução” é insuficiente. O mundo atual, com a sua instabilidade e suas profundas mudanças, reclama a presença de homens santos, apostólicos, em todas as atividades seculares: “Um segredo. Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. – Depois… ‘pax Christi in regno Christi’ – a paz de Cristo no reino de Cristo” (São Josemaría. Caminho, n. 301).
A ausência de Deus na sociedade secularizada traduz-se na falta de paz, e, como consequência, prolifera-se as divisões: entre as nações, nas famílias, no lugar de trabalho, na convivência diária… para encher de paz e de alegria estes ambientes, “temos que ser, cada um de nós, alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o mesmo Cristo. Somente assim poderemos empreender essa grande empresa, imensa, interminável: santificar desde dentro todas as estruturas temporais, levando aí o fermento da Redenção” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 183). Todos nós estamos chamados a colaborar nesta tarefa apaixonante, com uma visão otimista diante do mundo em que vivemos: “Para ti, que desejas formar-te num mentalidade católica, universal, transcrevo algumas características: (…) uma atitude positiva e aberta ante a transformação atual das estruturas sociais e das formas de vida” (São Josemaría, Sulco, n. 428).
Nesta tarefa de transformação do mundo, percebe-se também o importante papel do sacerdote. Porém, quem é o sacerdote na sociedade de hoje? Como pode converter-se em fermento de santidade? A esta pergunta pode-se responder desgranando umas palavras de São Josemaría que definem a identidade do sacerdote, também no mundo secularizado: “Todos os sacerdotes somos Cristo. Empresto ao Senhor minha voz, minhas mãos, meu corpo, minha alma: dou-lhe tudo” (São Josemaría, Anotações de uma reunião familiar em 10.05.1974, citado por J. Echevarría, Por Cristo, con Él y en Él, Ed. Palabra, Madrid 2007, p. 167).
1. «Todos os sacerdotes somos Cristo».
Eucaristia e identificação com Cristo.
Certamente são os leigos que, de modo capilar, fazem presente a Cristo nas encruzilhadas do mundo. Ao mesmo tempo, a vida de Cristo que se inicia no Batismo necessita do ministério sacerdotal para desenvolver-se. A grandeza do sacerdote consiste em que se lhe foi concedido o poder de vivificar, decristificar. O sacerdote é “instrumento imediato e diário dessa graça salvadora que Cristo ganhou-nos”. O sacerdote traz a Cristo “a nossa terra, a nosso corpo e a nossa alma, todos os dias: Cristo vem para alimentar-nos, para vivificar-nos” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade,13.IV.1973).
Como pastor de almas e como dispensador dos mistérios de Deus (cf. 1Co 4, 1), o sacerdote, especialmente num mundo indiferente à fé, deve alentar a todos para que progridam em direção à santidade, sem rebaixar – por covardia ou por falta de fé – o horizonte do mandato divino: sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48). O sacerdote orientará a outros nesse caminho à santidade se ele mesmo reconhece esse imperativo, e se é consciente de que Deus colocou em suas mãos os meios para alcança-lo. O grande desafio para o sacerdote consiste em identificar-se com Cristo no exercício do seu ministério sacerdotal, para que muitos outros também busquem esta configuração com o Senhor, no desempenho das suas tarefas habituais.
A identificação com Cristo sacerdote fundamenta-se no dom do sacramento da Ordem, e se desenvolve na medida em que o sacerdote põe nas mãos de Cristo tudo o que ele é. Isso acontece de modo paradigmático e excelente durante a celebração da Eucaristia. Na Missa, o sacerdote empresta seu ser a Cristo para trazer a Cristo. São Josemaría expressava esta verdade com uma força singular:
“Ao chegar ao altar a primeira coisa que pensa é: Josemaría, tu não é Josemaría Escrivá de Balaguer (…): és Cristo (…). É Ele quem diz: isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue, é Ele que consagra. Se não, eu não poderia fazê-lo. Ali se renova de modo incruento o divino Sacrifício do Calvário. De maneira que estou ali inpersona Christi, fazendo as vezes de Cristo” (São Josemaría, Anotações tomadas…, cit.).
Esta identificação com o Senhor é uma característica essencial da vida espiritual do sacerdote. Como dizia São Gregório Magno, “nós que celebramos os mistérios da paixão do Senhor, temos que imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará nosso lugar diante de Deus, se nos fazemos hóstias nós mesmos” (São Gregório Magno, Lib. Dialogorum, 4, 59, citado em São Josemaría Escrivá de Balaguer,Carta 8-VIII-1956, n. 17).
A inteira existência sacerdotal se orienta ao que o próprio eu diminua, para que cresça Cristo no presbítero: ocultar-se, sem buscar protagonismo, para que apareça somente a eficácia salvadora do Senhor; desparecer, para que Cristo se faça presente através do exercício abnegado e humilde do ministério. Ocultar-se e desaparecer (São Josemaría, Camino, edición crítico-histórica preparada por P. Rodríguez, 3ª edición, Rialp, Madrid 2004, p. 945) é uma fórmula que São Josemaría gostava muito. Convida especialmente ao sacerdotes a preferir o sacrifício escondido e silencioso (São Josemaría,Caminho, n. 185.) às manifestações ostentosas ou chamativas.
Paradoxalmente, para contrarrastar a ausência de Deus num mundo secularizado, São Josemaría propõe aos sacerdotes, não tanto uma forte atividade pública, com a sua correspondente ressonância mediática, senão, simplesmente, ocultar-se e desaparecer. Deste modo, ao desaparecer o “eu” do sacerdote, se propagará a presença de Cristo no mundo, segundo a lógica divina que se manifesta na celebração da Eucaristia.
“Parece-me que aos sacerdotes se nos pede a humildade de aprender a não estar de moda, de ser realmente servos dos servos de Deus – lembrando-nos daquele grito de João Batista: illum oportet crescere, me autem minui (Jn 3, 30); convém que Cristo cresça e que eu diminua –, para que os cristãos correntes, os leigos, façam presente, em todos os ambientes da sociedade, a Cristo (…). Quem pensa que, para que a voz de Cristo faça-se ouvir no mundo de hoje, é necessário que o clero fale ou se faça sempre presente, não entendeu muito bem a dignidade da vocação divina de todos e de cada um dos fiéis cristãos” (São Josemaría, Conversaciones, n. 59).
A existência sacerdotal consiste em colocar tudo o que é próprio a mercê de Deus: emprestar a voz ao Senhor, para que Ele fale; emprestar-lhe as mãos, para que Ele atue; emprestar-lhe o corpo e a alma, para que Ele cresça no sacerdote e, através do seu ministério, em cada um dos fiéis cristãos. Diante dos desafios do nosso mundo, São Josemaría, ensina aos sacerdotes humildade e abnegação: colocar inteiramente a disposição do Senhor o próprio eu.
2. «Empresto ao Senhor minha voz».
Familiaridade com a Palavra e disponibilidade para as almas.
A Eucaristia “reúne em si todos os mistérios do cristianismo. Celebramos, por tanto, a ação mais sagrada e transcendente que os homens, pela graça de Deus, podemos realizar nessa vida” (São Josemaría, Conversaciones, n. 113). O sacerdote empresta a sua voz ao Senhor, de modo inefável ao pronunciar as palavras da consagração, que permitem que a força de Deus Pai, Filho e Espírito Santo realize o prodígio da transubstanciação. A eficácia dessas palavras não está no sacerdote, mas em Deus. O sacerdote, por si mesmo, não poderia dizer eficazmente “isto é o meu corpo”, “este é o cálice do meu sangue”: pois não se produziria a conversão do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Isto, que sucede de modo extraordinário durante a celebração eucarística, no momento mais sublime da vida do sacerdote, pode-se estender analogamente a toda sua vida e seu ministério.
A eficácia da palavra do sacerdote – na pregação, na celebração dos sacramentos, na direção espiritual e no trato com as pessoas – provém do mesmo princípio: emprestar sua voz ao Senhor.
a)      Familiaridade com a voz de Deus;
Emprestar ao Senhor a própria voz requer confiança nEle, requer escutar a voz de Deus e incorporá-la na própria vida. Para adquirir essa familiaridade, São Josemaría indica dois caminhos imprescindíveis: a vida de oração e o estudo. O Sacerdote deve dedicar tempo para estudar e meditar a Sagrada Escritura e a aprofundar sua formação teológica, para que ressoe fielmente a voz de Cristo, que fala em sua Igreja.
“A pregação da palavra de Deus exige vida interior: devemos falar aos demais das coisas santas, ex abundantia enim cordis, os loquitur (Mt 12, 34); da abundância do coração, fala a boca. E junto com a vida interior, estudo: (…) Estudo, doutrina que incorporamos na própria vida, e que somente assim saberemos dar aos demais do modo mais conveniente, acomodando-nos as suas necessidades e circunstâncias com dom de línguas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 25).
O povo cristão está sedento da voz de Deus. E o sacerdote não pode decepcionar esses santos desejos. No mundo de hoje, no qual abunda a confusão, é necessário que o sacerdote seja o porta-voz fiel da Palavra divina: ter vida interior e estudar a doutrina, deve assegurar que a pregação não seja eco de outras vozes que não são de Cristo. Seguir confiadamente o Magistério é garantia que Cristo seja escutado na Igreja e no mundo. São Josemaría animava também aos sacerdotes a pedir luzes ao Espírito Santo, para serem somente instrumentos seus, pois é o Paráclito quem atua no interior da alma (cf. Santo Tomás, STh II-II, q 177, a. 1c.). Emprestar a voz a Deus significa também que o sacerdote não prega sobre si mesmo, mas sim de Cristo Jesus, Nosso Senhor (cf. 2Co 4, 5), fazendo eco do Evangelho. Deste modo, a eficácia da pregação virá do Senhor mesmo.
“Das palavras de Jesus Cristo bem expostas, claras, doces e fortes, cheias de luz, pode depender a solução do problema espiritual de uma alma que os escuta, desejosa de aprender e a determinar-se.A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração (Hb 4, 12)” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 26).
De alguma maneira, o sacerdote deve aspirar a mesma intimidade com a Palavra de Deus que teve Santa Maria. Bento XVI, a propósito do Magnificat, “completamente costurado pelos fios tomados da Sagrada Escritura”, descreve era familiaridade da Virgem nos seguintes termos: “Fala e pensa com a Palavra de Deus, a Palavra de Deus se converte em sua palavra, e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Assim se manifesta, além disso, que seus pensamentos estão em sintonia com o pensamento de Deus, que o seu querer é um querer com Deus” (Bento XVI, Carta Encíclica Deus caritas est, n. 41).
O Santo Padre vai mais além, ao sinalar que a Virgem, “ao estar intimamente penetrada pela Palavra de Deus, pode converter-se em mãe da Palavra encarnada” (Ibid.). algo parecido acontece com o sacerdote; São Josemaría dizia, referindo-se à Eucaristia que, assim como Nossa Mãe trouxa uma vez ao mundo a Jesus, “os sacerdotes o trazem a nossa terra, a nosso corpo e a nossa alma, todos os dias” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
Emprestar ao Senhor a voz requer humildade: calar opiniões pessoais em questões de fé, moral e disciplina eclesiástica quando são dissonantes; não apegar-se às próprias ideias, buscar a união com desejos de servir. É necessário que o sacerdote fale aos homens de Cristo, comunique a doutrina de Cristo como fruto da própria vida interior e do estudo: com santidade pessoal e conhecimento profundo da vida dos homens e das mulheres do seu tempo.
b)      Disponibilidade para emprestar a voz ao Senhor;
Emprestar a voz requer também disponibilidade. São Josemaría não se cansou de pedir aos sacerdotes que dedicassem tempo na administração do perdão divino. Para que a voz misericordiosa de Deus chegue às almas através do sacramento da Reconciliação, é necessária uma condição, quase óbvia, porém fundamental: estar disponíveis para atender os que se aproximam. Seria um erro pensar que, no nosso mundo, suporia uma perda de tempo. Seria equivalente a fechar a boca de Deus, que deseja perdoar por meio de seus ministros. São Josemaría tinha bem experimentado que, quando o sacerdote, com constância, um dia após o outro, dedica um tempo a esta tarefa, estando fisicamente no confessionário, esse lugar de misericórdia termina por encher-se de penitentes, embora ao princípio não venha ninguém. Assim descrevia a um grupo de sacerdotes diocesanos em Portugal, em 1972, o resultado de perseverar nessa tarefa.
“Não os deixarão viver, nem podereis rezar nada no confessionário, porque vossas mãos ungidas estarão, como as de Cristo – confundidas com elas, porque sois Cristo – dizendo: eu te absolvo. Amai o confessionário. Amai-o, amai-o”! (São Josemaría, Anotações de uma reunião com sacerdotes diocesanos em Enxomil (Oporto), 10-V-1974).
São Josemaría tinha uma fé vivíssima na verdade real de que o sacerdote é Cristo, quando diz: “eu te absolvo”. Com grande sentido sobrenatural e com sentido comum, dava conselhos muito práticos, para que a dignidade do sacramento não se obscurecesse, para que fosse um canal limpo da voz de Jesus Cristo. Por isso amava o confessionário. Entendia que, utilizando esse tradicional instrumento, fomentam-se as disposições adequadas – tanto do penitente como do confessor – para facilitar a sinceridade e o tom sobrenatural próprio de uma realidade sagrada.
“Deus nosso Senhor conhece bem a minha e a vossa debilidade: somos todos nós homens correntes, porém Cristo quis converter-nos num canal que faça chegar as águas de sua misericórdia e de seu Amor a muitas almas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 1).
Falava da administração do sacramento da Penitência como um exercício deleitável e uma paixão dominante do sacerdote. Sem dúvida, as horas diárias dedicadas a confessar, “com caridade, com muita caridade, para escutar, para advertir, para perdoar” (Ibid., n. 30) fazem parte de esse ocultar-se e desaparecer, tão eficaz para fazer presente a Cristo nas pessoas e nos ambientes onde vivem.
Ao confessar, o sacerdote – no seu papel de juiz, mestre, médico, pai e pastor – experimenta a necessidade de dar doutrina clara, ante as dificuldades que se apresentam na vida dos penitentes. Consciente disso, São Josemaría fomentou entre os presbíteros um vivo afã de conservar e melhorar a ciência eclesiástica, “especialmente a que necessitais para administrar o sacramento da Penitência” (Ibid., n. 15). “Procurai – escrevia em uma oração a sacerdotes – dedicar um tempo do dia – embora sejam somente alguns minutos – ao estudo da ciência eclesiástica” (Ibid.). Com este fom, impulsionou também encontros, convívios, reuniões para os presbíteros, etc.
O renascer da prática da confissão sacramental é um dos grandes desafios do mundo atual, que necessita redescobrir o sentido do pecado e experimentar a alegria da misericórdia de Deus. O sacerdote, estando disponível para celebrar o sacramento da Reconciliação, e procurando – mediante a oração e o estudo – que suas ideias estejam em sintonia com a doutrina da Igreja, é absolutamente insubstituível.
Os fiéis leigos devem sentir também a responsabilidade de levar seus colegas, parentes e amigos ao sacerdote, para que possam “escutar a voz de Deus” e receber seu perdão. A colaboração entre leigos e sacerdotes, neste campo, é especialmente importante na sociedade de hoje.
São Josemaría entendia que o sacerdote, também na tarefa de direção espiritual, é um instrumento para fazer chegar às almas a voz de Deus; nesta tarefa não deve sentir-se nem “proprietário”, nem modelo: “O modelo é Jesus Cristo; o modelador, o Espírito Santo, por meio da graça. O sacerdote é o instrumento, e nada mais” (Ibid., n. 37). A direção, outra das paixões dominantes de São Josemaría, não consiste em mandar, mas em abrir horizontes, sinalizar obstáculos, sugerindo os meios para vencê-los, e impulsionar ao apostolado. Animar,, em definitiva, a que cada um descubra e queira cumprir o desígnio de santidade que Deus tem para ele.
Isto é possível se o mesmo sacerdote está convencido de que propor a busca da santidade é levar as pessoas à felicidade. Esta persuasão surge da luta do presbítero pela própria santificação, é fruto do amor à vontade de Deus e é necessária para combater o pensamento laicista, que tende a excluir a Deus do horizonte da felicidade humana.
3. «Empresto ao Senhor minhas mãos».
Amor a liturgia e obediência a Igreja.
Na Santa Missa, é Cristo aquele que, através do sacerdote, oferece-se ao Pai pelo Espírito Santo. As mãos do presbítero, ungidas durante a cerimônia de ordenação, sempre foram veneradas pelos cristãos, porque trazem a Cristo, porque são dispensadoras dos tesouros da redenção.
São Josemaría tinha uma via consciência de que a liturgia é ação divina, sagrada, e não ação humana. Se um mundo descristianizado caracteriza-se, em boa parte, pela ausência do sagrado, o sacerdote tem hoje um grande desafio de esmerar-se no cuidado da liturgia, “emprestando a Deus suas mães” e seu ser por inteiro.
Isto significa evitar protagonismos que podem obscurecer a ação divina. Também no serviço litúrgico é válida a fórmula de São Josemaría: “Ocultar-se e desaparecer é comigo mesmo, que somente Jesus brilhe” (São Josemaría, Carta com motivo das bodas de ouro sacerdotais, 28-I-1975). Este princípio corresponde a lógica da fé e da visão sobrenatural. Somente desde a fé se pode entender em profundidade a eficácia sobrenatural que encerra o princípio de “emprestar ao Senhor minhas mãos”; e se aceitam com gosto as consequências práticas as quais conduz: fidelidade à fé e à doutrina católica, e obediência delicada às normas litúrgicas:
“Que coloqueis sempre um particular empenho em seguir com toda docilidade o Magistério da Santa Igreja; e, como consequência, que também cumpris, com delicada obediência, todas as indicações da Santa Sé em matéria litúrgica, adaptando-os com generosidade as possíveis modificações – que sempre serão acidentais – que o Romano Pontífice possa introduzir na lex orandi” (São Josemaría,Carta 8-VIII-1956, n. 22).
As mãos do sacerdote devem ser as mãos de uma pessoa enamorada, que sabe tratar com delicadeza as coisas do Senhor e, muito especialmente, tudo o que se relaciona com o culto divino. O descuido de igrejas, altares e objetos de culto transmite inevitavelmente certa sensação de ausência de Deus ou de indiferença. Para fazer frente ao mundo materialista, é necessário um cuidado atento de tudo aquilo relacionado com a presença sacramental do Senhor na Eucaristia. Numa celebração litúrgica imbuída de espírito de adoração encerra-se uma sóbria beleza, que eleva o espírito a Deus e comunica a presença do Sagrado. São Josemaría viveu sempre com a preocupação de que nunca é demais a dignidade do culto.
“Tratai bem os objetos de culto: é manifestação de fé, de piedade e dessa nossa bendita pobreza que, se nos leva a destinar ao culto o melhor daquilo que podemos dispor, nos obriga por isso mesmo a trata-lo com a mais sensível delicadeza: sancta sancte tractanda! São joias de Deus. Os cálices sagrados e as alfaias santas e o demais que pertence a Paixão do Senhor… por seu consorcio com o Corpo e o Sangue do Senhor devem ser venerados com a mesma reverência que seu Corpo e seu Sangue (S. Jerônimo, Epist. 114, 2)” (Ibid., n. 23).
4. «Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser».
Sacerdote cem por cento.
Depois de ter considerado como o sacerdote empresta ao Senhor sua voz e suas mãos, chegamos, como em um in crescendo de identificação com Cristo, a uma formulação abrangente da identidade sacerdotal: “empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Esta fórmula, referida à celebração eucarística, na qual o sacerdote atua in persona Christi Capitis, pode estender-se analogamente à inteira vida do sacerdote, constituindo a sua mais íntima aspiração: ser, sempre e em tudo, ipse Christus, o mesmo Cristo.
São Josemaría descrevia com força esse sentido de totalidade próprio do sacerdote. Dirigindo-se a um grupo de sacerdotes recém ordenados, expressava da seguinte maneira: “Receberam o Sacramento da Ordem para ser, nada mais e nada menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
Ao mesmo tempo, é evidente que sempre é indispensável à colaboração entre sacerdotes e leigos, cada um segundo a missão que lhes é própria. Como escrevia São Josemaría, “esta colaboração apostólica é hoje importantíssima, vital, urgente” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 3). Por uma parte, porque os presbíteros, enquanto tais, não têm acesso a muitos ambientes profissionais ou sociais. Por outra parte, porque os leigos, para serem verdadeiramente “outros Cristos” necessitam da vida sacramental e, por tanto, o recurso ao ministério sacerdotal. Sem vida interior, o leigo terminará por mundanizar-se, ao invés de cristianizar o mundo: é necessária uma intensa vida sobrenatural para influenciar cristãmente em ambientes onde parece ter desaparecido a pegada de Deus.
“No exercício do apostolado, os leigos têm absoluta necessidade do sacerdote, no momento em que chegam ao que chamo o muro sacramental, como os sacerdotes – especialmente em meio da indiferença religiosa, quando não se trata ademais de um ataque brutal à Religião, na sociedade desses tempos – tem necessidade dos leigos, para o apostolado” (Ibid.).
Esta colaboração é eficaz na medida em que respeita a natureza mesma da vocação de cada um: o leigo deve ser “Cristo” em meio do mundo, nas circunstâncias normais da sua vida: na convivência com seus familiares, com aqueles que compartilha projetos e afãs. Ao mesmo tempo, o sacerdote deve ser sempre e inteiramente sacerdote, vivendo para sustentar e alentar o afã de santidade de homens e mulheres, com uma entrega abnegada em seu ministério. Dificilmente haverá leigos que perseverem no empenho de buscar a santidade na vida ordinária, sem presbíteros “dedicados integralmente ao seu serviço, que se esqueçam habitualmente de si mesmos, para preocupar-se somente das almas” (Ibid.).
São Josemaría repetia com frequência que tinha uma só panela (un solo puchero) para todos, cujo conteúdo é, em síntese, a busca da santidade no meio das ocupações cotidianas. Dessa panela podem se alimentar o pai e a mãe de família, o engenheiro, o advogado, o médico, o operário, e também o sacerdote. E o sacerdote desempenha um papel insubstituível para ajudar os fiéis a ser santos: há de servir a todos, é sacerdote para os demais. Pela missão que recebeu de Deus tem uma especial obrigação por buscar a santidade. “Muitas coisas grandes dependem do sacerdote: temos a Deus, trazemos a Deus, damos a Deus” (Ibid., n. 17).
Por isso o fundador do Opus Deu falava em ser sacerdote cem por cento, que é a consequência da fazer da própria vida aquilo que acontece na Santa Missa: emprestar ao Senhor o corpo e a alma, dar-lhe tudo. Significa também que o sacerdócio não é um emprego, nem uma tarefa que ocupa parcialmente a jornada, como outros trabalhos. Para São Josemaría não existem âmbitos da existência pessoal que não sejam sacerdotais: até nas situações aparentemente mais intranscendentes, ou nas ocupações profanas, o sacerdote é sempre sacerdote, escolhido entre os homens, constituído em favor dos homens (Cf. Hb 5, 1).
Plenamente congruente com esse “emprestar meu corpo a Senhor” é o dom do celibato sacerdotal. Em meio do mundo, que facilmente tende a banalizar a dignidade do corpo, cobra especial significado entregar totalmente o corpo a Nosso Senhor Jesus Cristo na celebração eucarística. O celibato de Jesus Cristo ilumina com toda sua força e resplendor o celibato do sacerdote. Cristo, nos seus anos de existência terrena e na vida da sua Igreja, demonstrou a que grau extraordinário de paternidade e maternidade, de caridade sem limites, pode-se chegar com esse dom.
Ao longo da sua grande experiência pastoral, São Josemaría experimentou continuamente a necessidade de uma forte identidade sacerdotal: não é verdade que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem a mais; o povo cristão, o que deseja do sacerdote é que seja sacerdote. Na sociedade atual, onde poucos pretendem ofuscar a Deus, os cristãos necessitam perceber com mais razão ainda a presença de Cristo no sacerdote; necessitam e esperam, em palavras de São Josemaría, “que se destaque claramente o caráter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem constituir-se em chefe ou militante de bandeiras humanas, sejam do tipo que sejam; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que console os enfermos e aos afligidos; que dê doutrina na catequese de crianças e adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana que – embora conhecesse perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que tenha conselho e caridade com os necessitados. Em uma palavra: se pede ao sacerdote que aprenda a não estorvar a presença de Cristo nele” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).
*.*.*
Esta última frase pode talvez resumir o desafio que o mundo atual lança aos ministros sagrados. Aos homens de todos os tempos, o sacerdote deve fazer presente a Deus, e para isto, deve aprender a emprestar a Cristo sua voz, suas mãos, sua alma e seu corpo: todo seu ser. Assim acontece principalmente quando administra os sacramentos ou na pregação, porém não somente nesses momentos. A dinâmica própria do sacramento da Ordem, cujo centro e cume é a Eucaristia, leva a doar-se inteiramente, ao longo do dia, de corpo e alma, a Cristo.
A vida terrena de Santa Maria, Mãe de Cristo, Sacerdote Eterno, e Mãe dos sacerdotes, foi um “faça-se sincero, entregado, cumprido até as últimas consequências, que não se manifestou em ações espetaculares, mas sim no sacrifício escondido e silencioso de cada dia” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 172). Na Virgem se demonstra a eficácia dessa atitude. Por isso Maria, permanentemente, continua fazendo presente a Deus nas casas, nas ruas. A Mãe de Deus é, muitas vezes, o último reduto de fé, daquele que não poucas vezes brota de novo a conversão e o descobrimento da alegria da vida cristã em meio do mundo.
+ Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei

Mons. Echevarría, Prelado del Opus Dei : San Josemaría Escrivá modelo de vida sacerdotal

Sacerdote, sólo sacerdote. San Josemaría Escrivá modelo de vida sacerdotal

Recogemos a continuación un artículo de Mons. Echevarría, Prelado del Opus Dei, sobre san Josemaría.
EL FUNDADOR Y EL SACERDOCIO
Opus Dei - Sacerdote, sólo sacerdote. San Josemaría Escrivá modelo de vida sacerdotal

El sentido de la grandeza del sacerdocio llevaba a san Josemaría a cuidar con esmero su vocación sacerdotal, de la que se hallaba cada vez más enamorado. Cuando, para atender los ruegos de quienes estábamos a su lado, se refería a veces al proceso de su vocación, siempre recalcaba la iniciativa de Dios, que le salió al encuentro cuando tenía quince o dieciséis años.

Evocar la figura y las enseñanzas de este santo sacerdote [San Josemaría Escrivá de Balaguer] constituye para mí un gozo muy grande. Si, además, las personas que me escuchan son presbíteros, mi alegría se multiplica, pues conozco bien el entrañable amor –más aún, veneración– que el Fundador del Opus Dei dispensaba a sus hermanos en el sacerdocio. ¡Cómo gozaba cuando tenía la ocasión de reunirse con ellos! Aprendía de todos y, a quienes se lo pedían, no tenía reparos en abrirles su corazón para hablarles de los grandes amores de su vida: Cristo con María, la Iglesia y el Papa, las almas todas. Solía decir que, en esas ocasiones, se sentía como quien va a vender miel al colmenero. Pero era la suya una miel de tanta calidad, que los que le escuchaban salían de esas reuniones con renovados deseos de fidelidad a la vocación, con el alma rebosante de optimismo, decididos a gastarse con gozo en la tarea pastoral y apostólica.

Identidad del sacerdote 
Comenzaré mi intervención con unas palabras que San Josemaría solía dirigir a los recién ordenados, pero que nos sirven también –y quizá más especialmente– a quienes llevamos muchos años de sacerdocio. Decía: «sed, en primer lugar, sacerdotes; después, sacerdotes; siempre y en todo, sólo sacerdotes». En esta afirmación se transparenta su altísimo concepto del sacerdocio ministerial, por el que unos pobres hombres –que eso somos todos delante del Señor– son constituidosministros de Cristo y dispensadores de los misterios de Dios (1 Cor 4,1). Tan firme era su fe en la identificación sacramental con Cristo que se lleva a cabo en el sacramento del Orden, que su único timbre de gloria, al lado del cual palidecían todos los honores de la tierra, era sencillamente ser sacerdote de Jesucristo.
Los santos, desde los tiempos más antiguos, se han detenido a comentar la dignidad del sacerdocio. Varios Papas –entre los que recuerdo especialmente a San Pío X, a Pío XI y al actual Romano Pontífice– han escrito documentos inolvidables, que han alimentado y continúan alimentando nuestra vida sacerdotal. También San Josemaría nos ha dejado su enseñanza. En una homilía de 1973, cuando se difundían voces confusas sobre la identidad del sacerdote y el valor del sacerdocio ministerial, resumía su pensamiento con las siguientes palabras: «ésta es la identidad del sacerdote: instrumento inmediato y diario de esa gracia salvadora que Cristo nos ha ganado. Si se comprende esto, si se ha meditado en el silencio activo de la oración, ¿cómo considerar el sacerdocio una renuncia? Es una ganancia que no es posible calcular. Nuestra Madre Santa María, la más santa de las criaturas –más que Ella sólo Dios– trajo una vez al mundo a Jesús; los sacerdotes lo traen a nuestra tierra, a nuestro cuerpo y a nuestra alma, todos los días: viene Cristo para alimentarnos, para vivificarnos, para ser, ya desde ahora, prenda de la vida futura» 1. 

El sentido de la grandeza del sacerdocio le llevaba a cuidar con esmero su vocación sacerdotal, de la que se hallaba cada vez más enamorado. Cuando, para atender los ruegos de quienes estábamos a su lado, se refería a veces al proceso de su vocación, siempre recalcaba la iniciativa de Dios, que le salió al encuentro cuando tenía quince o dieciséis años. Como bien sabéis, fue en Logroño, en diciembre de 1917 o enero de 1918, donde el adolescente Josemaría Escrivá tuvo los primeros presentimientos –debarruntos, los calificaba– de que el Señor le llamaba para algo que no sabía lo que era. No se le había pasado por la cabeza la posibilidad del sacerdocio. Sin embargo, ante esa acción de Dios, con el fin de prepararse mejor para cumplir la Voluntad divina, decidió ingresar en el Seminario. Con toda verdad podía afirmar, pasados los años, que el arranque de su vocación sacerdotal había sido «una llamada de Dios, un barrunto de amor, un enamoramiento de un chico de quince o dieciséis años» 2.

En el Seminario de Logroño recibió la primera formación sacerdotal, que luego completaría en Zaragoza. Dios quería que la semilla que iba a lanzar sobre la tierra el 2 de octubre de 1928, encontrase un corazón de sacerdote preparado a fondo para acogerla y hacerla fructificar. Por eso, con agradecimiento a Nuestro Señor, San Josemaría afirmaba que su vocación era –dejadme que insista– la de ser sacerdote, sólo sacerdote, siempre sacerdote. Amaba con locura esta condición que, configurándolo con Cristo, le había preparado para ser instrumento, en manos de Dios, para la fundación del Opus Dei.

Don y tarea
Al enumerar las condiciones de los candidatos al sacerdocio, antiguamente se prescribía que deberían elegirse entre hombres que condujesen una vida honesta. Esta formulación, minimalista y ya superada, le parecía muy pobre a San Josemaría. «Entendemos, con toda la tradición eclesiástica –escribía en 1945–, que el sacerdocio pide –por las funciones sagradas que le competen– algo más que una vida honesta: exige una vida santa en quienes lo ejercen, constituidos –como están– en mediadores entre Dios y los hombres» 3.

Josemaría Escrivá había recibido, en el seno de su familia y en el colegio, una formación profundamente cristiana, que comprendía el conocimiento de la doctrina, la frecuencia de sacramentos, la preocupación concreta por las necesidades espirituales y materiales de las personas, como ponen de relieve testigos de aquella época. Al recibir la llamada divina al sacerdocio, su existencia dio un cambio radical, en el sentido de que aumentó la intensidad y frecuencia de su trato con Dios y su preocupación apostólica por los demás. Esto le llevó a una madurez impropia de los años, pero sobrenaturalmente lógica. Se cumplía en su vida lo que afirma la Sagrada Escritura: super senes intellexi quia mandata tua servavi4, he adquirido más prudencia que los ancianos porque he guardado fielmente tus mandamientos. Desde aquellos barruntos, el adolescente Josemaría empezó a tomarse en serio la santidad, tratando de conocer y cumplir fidelísimamente la Voluntad de Dios.

Cuando el Concilio Vaticano II, en el capítulo V de la Constitución dogmática Lumen gentium, afronta el tema de la vocación de los bautizados a la santidad, afirma: «Los seguidores de Cristo, llamados por Dios no en razón de sus obras, sino en virtud del designio y gracia divinos, y justificados en el Señor Jesús, han sido hechos por el Bautismo, sacramento de la fe, verdaderos hijos de Dios y partícipes de la naturaleza divina y, por lo mismo, realmente santos. En consecuencia, es necesario que con la ayuda de Dios conserven y perfeccionen en su vida la santificación que recibieron» 5.

En cuanto miembros del Cuerpo Místico de Cristo, en el que hemos sido injertados por el Bautismo, todos hemos sido santificados radicalmente: llevamos en nosotros mismos el germen e inicio de la vida nueva que Cristo nos ha ganado con su Muerte y su Resurrección. La consagración bautismal es la realidad fundante de la llamada a la santidad en todos los géneros de vida. Desde este punto de vista, atendiendo a la absoluta gratuidad de lo que hemos recibido, la santificación aparece claramente en su dimensión de don: un regalo inmerecido que nuestro Padre-Dios nos otorga, en Cristo, por el Espíritu Santo. Al mismo tiempo, la santificación es una llamada personal, una tarea que se encomienda a la responsabilidad de cada cristiano. San Josemaría dirá que es obra de toda la vida 6.

La santidad es, pues, don y tarea. Entrega gratuita de un bien inmerecido y, al mismo tiempo, encargo que hay que llevar a término con esfuerzo personal, con correspondencia heroica, empeñándose en un verdadero compromiso de vida cristiana.

La santidad sacerdotal como don
Al ser una y la misma la condición radical de todos los bautizados, todos –sacerdotes y seglares– estamos convocados de igual modo a la plenitud de la vida cristiana. «No hay santidad de segunda categoría: o existe una lucha constante por estar en gracia de Dios y ser conformes a Cristo, nuestro Modelo, o desertamos de esas batallas divinas. A todos invita el Señor para que se santifique en su propio estado» 7.

Estamos ante una de las intuiciones fundamentales que San Josemaría Escrivá predicó, por encargo divino, desde 1928. Al fundar el Opus Dei, el Señor le mostró que cada persona ha de procurar santificarse en el propio estado, en el género de vida en el que ha sido llamada, en su propio trabajo y a través de su propio trabajo, según la conocida expresión de San Pablo: unusquisque, in qua vocatione vocatus est, in ea permaneat (1 Cor 7,20).

La santidad, en los sacerdotes y en los seglares, se edifica, por tanto, sobre el mismo fundamento: la consagración originaria del Bautismo, perfeccionada por la Confirmación. Sin embargo, resulta evidente que el deber de tender a la santidad urge especialmente al sacerdote, que ha sido escogido entre los hombres y constituido en favor de los hombres en lo que se refiere a Dios, para ofrecer dones y sacrificios por los pecados (Hb 5,1).

«En contacto continuo con la santidad de Dios –ha escrito Juan Pablo II–, el sacerdote debe llegar a ser él mismo santo. Su mismo ministerio lo compromete a una opción de vida inspirada en el radicalismo evangélico» 8. Y añade en el libro Don y misterio, escrito con ocasión del quincuagésimo aniversario de su ordenación sacerdotal: «Si el Concilio Vaticano II habla de la vocación universal a la santidad, en el caso del sacerdote es preciso hablar de una especial vocación a la santidad. ¡Cristo tiene necesidad de sacerdotes santos! ¡El mundo actual reclama sacerdotes santos! Solamente un sacerdote santo puede ser, en un mundo cada vez más secularizado, un testigo transparente de Cristo y de su Evangelio. Solamente así el sacerdote puede ser guía de los hombres y maestro de santidad» 9.

El sacerdote ha sido consagrado dos veces para Dios: en el Bautismo, como todos los cristianos, y en el sacramento del Orden. Por eso, si bien no puede hablarse de santidad de primera o segunda categoría –porque todos estamos invitados a la perfección con la que el mismo Padre celestial es perfecto (cfr. Mt 5,48)–, no cabe duda de que sobre los sacerdotes recae especialmente el deber de tender a la santidad. Releamos unas palabras del Fundador del Opus Dei que resultan especialmente clarificadoras. «Todos los cristianos podemos y debemos ser no yaalter Christus, sino ipse Christus: otros Cristos, ¡el mismo Cristo! Pero en el sacerdote esto se da inmediatamente de forma sacramental» 10.

En el ejercicio del ministerio para el que ha sido ordenado, encuentra el sacerdote el alimento de su vida espiritual, el material que le hace arder en el amor de Dios. Por eso, sería un grave error si otras aspiraciones u otras tareas desdibujaran en su alma lo que, para él, se concreta en algo indispensable para alcanzar la santidad: la celebración cuidadosa y llena de amor del Sacrificio de la Misa, la predicación de la Palabra de Dios, la administración de los sacramentos a los fieles, especialmente el de la Penitencia; una vida de oración constante y de penitencia alegre; el cuidado de las almas que se le han confiado, junto con los mil servicios que una caridad vigilante sabe dispensar.

Desde que percibió la llamada al sacerdocio, y más explícitamente, desde que fue ordenado sacerdote, San Josemaría quiso identificarse con Cristo, ser el mismo Cristo, en el ejercicio del ministerio sacerdotal y en toda su existencia. De ahí su vida de oración, su celebración pausada de la Misa, su “necesidad” de permanecer largos ratos junto al Sagrario; y, al mismo tiempo, su urgencia por buscar a las almas para conducirlas, en Cristo, por caminos de santidad. Comprendió que se puede y se debe llevar una conducta santa en todos los estados de vida, y concretamente en el matrimonio; por eso, desde sus primeros años como pastor, además de encaminar a muchas personas por las vías del celibato apostólico asumido con verdadera alegría, alentó a muchas otras a descubrir la dignidad de la vocación matrimonial.

Escribe Juan Pablo II: «El sentido del propio sacerdocio se redescubre cada día más en el Mysterium fidei. Ésta es la magnitud del don del sacerdocio y es también la medida de la respuesta que requiere tal don. ¡El don es siempre más grande! Y es hermoso que sea así. Es hermoso que un hombre nunca pueda decir que ha respondido plenamente al don. Es un don y también una tarea: ¡siempre! Tener conciencia de esto es fundamental para vivir plenamente el propio sacerdocio» 11.

San Josemaría Escrivá celebraba cada día la Santa Misa con pasión de enamorado, bien consciente de que «por el Sacramento del Orden, el sacerdote se capacita efectivamente para prestar a Nuestro Señor la voz, las manos, todo su ser» 12. Escuchad cómo describía en una reunión familiar ese misterioso eclipse de la personalidad humana del presbítero, que en esos momentos se convierte en instrumento vivo de Dios:

«Llego al altar y lo primero que pienso es: Josemaría, tú no eres Josemaría Escrivá de Balaguer (...): eres Cristo. Todos los sacerdotes somos Cristo. Yo le presto al Señor mi voz, mis manos, mi cuerpo, mi alma: le doy todo. Es Él quien dice: esto es mi Cuerpo, ésta es mi Sangre, el que consagra. Si no, yo no podría hacerlo. Allí se renueva de modo incruento el divino Sacrificio del Calvario. De manera que estoy allí in persona Christi, haciendo las veces de Cristo. El sacerdote desaparece como persona concreta: don Fulano, don Mengano o Josemaría... ¡No señor! Es Cristo» 13.

La santidad sacerdotal como tarea
La grandeza incomparable del sacerdote se fundamenta en su identificación sacramental con Cristo, que le lleva a ser ipse Christus y a actuar in persona Christi capitis, sobre todo en la celebración eucarística y en el ministerio de la Reconciliación. «Una grandeza prestada –comentaba San Josemaría Escrivá–, compatible con la poquedad mía. Yo pido a Dios Nuestro Señor –añadía– que nos dé a todos los sacerdotes la gracia de realizar santamente las cosas santas, de reflejar, también en nuestra vida, las maravillas de las grandezas del Señor» 14.

Cada cristiano ha de procurar que su condición de seguidor de Jesucristo se refleje en toda su conducta: la familia, la profesión, la actividad social, pública, deportiva... También en la existencia concreta del sacerdote, en su vida diaria, ha de manifestarse su específica pertenencia a Cristo. Por el carácter indeleble recibido en la ordenación, se es sacerdote las veinticuatro horas del día, no sólo en los momentos en los que se ejercita expresamente el ministerio. Conviene tenerlo muy presente en la época actual, cuando van desapareciendo –de nuestra sociedad multicultural y multireligiosa– tantos signos que recordaban a nuestros antepasados la primacía de Dios y de la vida sobrenatural. No lo digo con pesimismo, sino con ánimo de que todos nos esforcemos para que no se pierdan las raíces cristianas de nuestro pueblo, que se manifiestan también en tradiciones piadosas, en elementos de la cultura, del arte y de las costumbres.

A la meta de la santidad, el sacerdote ha de llegar como por un plano inclinado, bajo la dirección del Espíritu Santo, que es quien modela en los hijos adoptivos de Dios los rasgos de Jesucristo. En este proceso, que dura toda la vida, junto a la acción sobrenatural de la gracia, resulta decisiva la respuesta dócil de la criatura.

Sin esfuerzo por practicar las virtudes, sin lucha por desarrollarlas cotidianamente, con constancia, no es posible la santidad. ¿En qué se centran los hábitos virtuosos que han de vertebrar la santidad del sacerdote? En lo mismo que en los demás fieles, puesto que todos estamos llamados a idéntica meta –la unión con Dios– y disponemos de los mismos medios para alcanzarla. La diferencia estriba en el modo de ejercitar esas virtudes. En el sacerdote, todo debe cumplirse sacerdotalmente; es decir, teniendo siempre presente la finalidad de su vocación específica, el servicio a las almas. Hemos de seguir el ejemplo del Señor, que afirmó de sí mismo: Pro eis ego sanctifico meipsum, ut sint et ipsi sanctificati in veritate (Jn 17,19).

No cabe, en este breve tiempo, exponer tan siquiera un elenco completo de las virtudes sacerdotales. Me limitaré a presentar algunas que considero capitales en la enseñanza y en el ejemplo de San Josemaría.

Virtudes humanas del sacerdote
Utilizando la metáfora de la construcción –imagen de raíces bíblicas–, lo primero que se busca es un terreno sólido. El mismo Cristo alude a esta necesidad, en la conclusión del Sermón de la Montaña, cuando habla del hombre prudente que edificó su casa sobre roca, de modo que cuando llegaron los vientos y las lluvias nada pudieron contra esa mansión (cfr. Mt 7,24-25).

En la vida espiritual del cristiano, el terreno sólido del edificio espiritual se configura por las virtudes humanas, pues la gracia presupone siempre la naturaleza. Conviene no olvidar que el sacerdote no deja de ser hombre al recibir la ordenación. Por el contrario, precisamente por haber sido sacado de entre los hombres y constituido mediador entre los hombres y Dios (cfr. Hb 5,1), necesita cuidar su preparación humana, que le capacita para servir mejor a las almas.

«Comprende esta formación –escribe Mons. Álvaro del Portillo– el conjunto de virtudes humanas que se integran directa o indirectamente en las cuatro virtudes cardinales, y el bagaje de cultura no eclesiástica indispensable para que el sacerdote pueda ejercitar con facilidad –ayudado, desde luego, por la gracia– su apostolado» 15. Mi predecesor al frente de la Prelatura del Opus Dei subraya los motivos principales que han de impulsar al sacerdote a adquirir y desarrollar estas virtudes: «El primero, como parte de la lucha ascética normalmente necesaria para llegar a la perfección; el segundo, como medio para ejercitar con mayor eficacia el apostolado» 16.

En la vida y en las enseñanzas de San Josemaría, destaca este aspecto basilar de la formación cristiana y de la específicamente sacerdotal. Tenemos numerosas pruebas de esta afirmación, desde su infancia hasta su fallecimiento en 1975. Los testigos de su labor pastoral se manifiestan concordes en describirle como un sacerdote enamorado de Jesucristo, entregado al servicio de las almas, con una personalidad fuerte y armónica, en la que lo humano y lo sobrenatural se fundían estrechamente en unidad de vida. Por lo que se refiere a sus enseñanzas, resulta paradigmática la homilía “Virtudes humanas”, recogida en el libro Amigos de Dios, donde se asienta el fundamento teológico de la necesidad de cultivar las virtudes humanas: la hondura de la Encarnación del Verbo, perfecto Hombre sin dejar de ser perfecto Dios. En esa homilía analiza las principales virtudes que un cristiano y un sacerdote deben cultivar: la reciedumbre, la serenidad, la paciencia, la laboriosidad, el orden, la diligencia, la veracidad, el amor a la libertad, la sobriedad, la templanza, la audacia, la magnanimidad, la lealtad, el optimismo, la alegría.

Sobre el fundamento de la humildad 
«La humildad es el fundamento de nuestra vida, medio y condición de eficacia» 17, escribe San Josemaría, en sintonía con la tradición espiritual del Cristianismo. Evidentemente se refiere al fundamento moral, pues el teologal –como predicó con su conducta y con sus enseñanzas– se centra en la fe teologal, que nos conduce a asumir con hondura el sentido de nuestra filiación divina en Cristo. Esta convicción pone de relieve ante los hombres la verdad más profunda sobre nosotros mismos y, por tanto, potencia necesariamente la humildad, que no refleja otra cosa que aquel “andar en verdad” de la Santa de Ávila: el caminar en la fe.

Con una fe recia, como base de la respuesta cristiana, se soslaya el error de presentar la humildad como falta de decisión o de iniciativa, como renuncia al ejercicio de derechos que son deberes. Nada más lejos del pensamiento del Fundador del Opus Dei. «Ser humildes –predicaba en una ocasión– no es ir sucios, ni abandonados; ni mostrarnos indiferentes ante todo lo que pasa a nuestro alrededor, en una continua dejación de derechos. Mucho menos es ir pregonando cosas tontas contra uno mismo. No puede haber humildad donde hay comedia e hipocresía, porque la humildad es la verdad» 18.

Tan importante es esta virtud en la vida cristiana, que San Josemaría aseguraba que, «lo mismo que se condimentan con sal los alimentos, para que no sean insípidos, en la vida nuestra hemos de poner siempre la humildad» 19. Y acudía a una comparación clásica: «no vayáis a hacer como esas gallinas que, apenas ponen un solo huevo, atronan cacareando por toda la casa. Hay que trabajar, hay que desempeñar la labor intelectual o manual, y siempre apostólica, con grandes intenciones y grandes deseos –que el Señor transforma en realidades– de servir a Dios y pasar inadvertidos» 20.

Pero volvamos a considerar el fundamento teologal, es decir, la fe, y con la fe, la esperanza: no hay santidad si no se desarrolla una fe omnicomprensiva de la realidad, si no se fomenta –como la fuerza que impulsa el peregrinar terreno– la virtud de la esperanza. Desde el primer momento, el Fundador del Opus Dei fue bien consciente de que la misión que Dios le había confiado era inmensamente superior a sus fuerzas. Por eso acudió con insistencia, sin abandonarlos jamás, a los únicos medios capaces de poner a nuestro alcance la omnipotencia divina: la oración y el sacrificio. Son innumerables los testimonios que documentan cómo fue mendigando, por los hospitales y los barrios marginados de Madrid, como si se tratase de un tesoro, la plegaria y el ofrecimiento a Dios del dolor de muchas gentes abandonadas, a las que llevaba el consuelo y el aliento de su asistencia sacerdotal.

¡Cuánta necesidad tenemos los sacerdotes de que nuestra fe y nuestra esperanza aumenten más y más! Nos hallamos metidos en una labor donde lo que más cuenta, lo único absolutamente necesario (cfr. Lc 10,42), son los medios sobrenaturales. Se requieren verdaderos milagros, para conducir a las almas hasta Dios. Sin embargo, «se oye a veces decir que actualmente son menos frecuentes los milagros. ¿No será que son menos las almas que viven vida de fe?» 21. Estas palabras de San Josemaría resuenan en nuestros oídos como un toque de atención, una llamada a nuestro sentido de responsabilidad, porque el sacerdote ha de ser, ante todo, un hombre de fe y un hombre esperanzado. «Por medio de la fe –escribe el Papa–, accede a los bienes invisibles que constituyen la herencia de la Redención del mundo llevada a cabo por el Hijo de Dios» 22.

La fe es fundamento de las cosas que se esperan, prueba de las que no se ven (Hb 11,1). Y es «en la oración perseverante de cada día, con facilidad o con aridez, donde el sacerdote, como todo cristiano, recibe de Dios (...) luces nuevas, firmeza en la fe, segura esperanza en la eficacia sobrenatural de su trabajo pastoral, amor renovado: en una palabra, el impulso para perseverar en ese trabajo y la raíz de la efectiva eficacia del trabajo mismo» 23. En estas palabras de Mons. del Portillo, el más estrecho colaborador del Fundador del Opus Dei durante muchos años, podemos descubrir una delicada alusión a la vida espiritual de San Josemaría, que recibió de Dios la gracia de ser contemplativo en medio de las tareas más absorbentes. Añade don Álvaro: «Sin oración, y sin oración que se esfuerza por ser continua, en medio de todos los quehaceres, no hay identificación con Cristo en lo que ésta tiene de tarea, fundamentada en lo que tiene de don. Más aún, me atrevo a decir que un sacerdote sin oración, si no falsea la imagen que da de Cristo –Modelo para todos–, la presenta como una nebulosa que ni atrae ni orienta, que no sirve de norte al pueblo que nos ve o nos oye» 24.

Caridad pastoral
Llegamos así a la virtud más definitiva y característica de la vida cristiana: la caridad, que en el sacerdote adquiere unos contornos precisos: es caridad pastoral. En pocas palabras, nace de la conciencia de ser representante de Jesucristo, el Pastor supremo(1 Pe 5,4) de las almas, que ha dado la vida por sus ovejas (cfr. Jn 10,11). Esta convicción sobrenatural ha de impulsar al sacerdote a gastarse hasta el extremo en el ejercicio de su ministerio, pues le urge la caridad de Cristo (cfr. 2 Cor 5,14). Una caridad pastoral, fuerte y perseverantemente alimentada en la Eucaristía y en la oración, dará eficacia de frutos a su ministerio.

La figura de San Josemaría aparece muy ilustrativa a este respecto. Desde los primeros momentos de su vocación, no se ahorró ningún trabajo en el servicio de las almas. Antes he aludido brevemente a sus andanzas por los barrios extremos del Madrid de los años 20 y 30, en perenne contacto con la pobreza y la enfermedad, atendiendo a los moribundos, confortando a los enfermos, ilustrando a los niños y a los adultos con la doctrina cristiana. Puedo asegurar –porque lo he contemplado con mis ojos– que así gastó el resto de su existencia, hasta la última jornada: siempre pendiente de los demás, cercanos y lejanos, conocidos y desconocidos: rezaba y se sacrificaba gustosamente por todas las almas, sin excepción.

La peculiar asunción de la persona por Dios, que se lleva a cabo en la ordenación sacerdotal, hace que el presbítero se vincule y consagre íntegramente al servicio y al amor total de Cristo. Con tal envergadura se presenta la riqueza de este don, que puede asumir como suyas –en un sentido particularmente profundo– las palabras del Apóstol: mihi vivere Christus est (Flp 1,21), vivo autem iam non ego, vivit vero in me Christus (Gal 2,20). Por otra parte, la misión recibida tiene un carácter universal: el sacerdote viene enviado al mundo entero, como instrumento vivo de Cristo, que se entregó a sí mismo por nosotros para redimirnos de toda iniquidad, y para purificar para sí un pueblo escogido, celoso por hacer el bien (Tt 2,14).

La identificación sacramental con Cristo, junto con la misión recibida, se hallan en el fundamento de las peculiares exigencias de la caridad pastoral, y colocan al sacerdote en una situación especial en el misterio de Cristo y de la Iglesia. Comentando la profundización doctrinal operada a este propósito por el Concilio Vaticano II, Mons. Álvaro del Portillo escribe: «Si se considera que el Amor encarnado entre los hombres evitó cualquier atadura humana –por justa y noble que fuese– que pudiera en algún momento dificultar o restar plenitud a su total dedicación ministerial, se comprende bien la conveniencia de que el sacerdote haga lo mismo, renunciando libremente –por el celibato– a algo en sí bueno y santo, para unirse más fácilmente a Cristo con todo el corazón, y por Él y en Él dedicarse con más libertad al entero servicio de Dios y de los hombres» 25.

El celibato sacerdotal se configura como manifestación de la completa oblación de su vida que el sacerdote, libremente, ofrece a Cristo y a la Iglesia. En esta óptica, se entienden bien las palabras de San Josemaría en un rato de conversación familiar, en 1969. «El sacerdote, si tiene verdadero espíritu sacerdotal, si es hombre de vida interior, nunca se podrá sentir solo. ¡Nadie como él podrá tener un corazón tan enamorado! Es el hombre del Amor, el representante entre los hombres del Amor hecho hombre. Vive por Jesucristo, para Jesucristo, con Jesucristo y en Jesucristo. Es una realidad divina que me conmueve hasta las entrañas, cuando todos los días, alzando y teniendo en las manos el Cáliz y la Sagrada Hostia, repito despacio, saboreándolas, estas palabras del Canon: Per Ipsum, et cum Ipso et in Ipso... Por Él, con Él, en Él, para Él y para las almas vivo yo. De su Amor y para su Amor vivo yo, a pesar de mis miserias personales. Y a pesar de esas miserias, quizá por ellas, es mi Amor un amor que cada día se renueva» 26.

Fraternidad sacerdotal
Amando a todas las almas sin excepción, San Josemaría reservaba un amor de predilección a sus hermanos los sacerdotes. Ya he aludido a su gozo cuando podía reunirse con ellos, para aprender de su entrega –tantas veces heroica– y para transmitirles al mismo tiempo algo de su experiencia personal. Pero no puedo dejar de recordar sus desvelos concretos por los presbíteros, especialmente durante los años que residió en España. En la década de los 40, por ejemplo, a petición de los Obispos diocesanos, predicó muchos cursos de retiro al clero, que se encontraba necesitado de ayuda espiritual después de la terrible prueba de la persecución religiosa de los años anteriores. San Josemaría se dio de lleno a esa tarea, y llegó a atender, a veces, a más de mil presbíteros en un solo año.

Hasta el final de su vida, alimentó una petición urgente al Señor, para que Dios enviase a la Iglesia muchas vocaciones sacerdotales. Personalmente, preparó y encaminó a los seminarios a un gran número de jóvenes con inquietudes vocacionales hacia el sacerdocio. E impulsaba a los fieles laicos a rezar con insistencia al Dueño de la mies, para que mande muchos obreros a su campo (cfr. Mt 9,37-38). Para San Josemaría, el pulso de la vitalidad sobrenatural de una Diócesis viene medido por el número de vocaciones sacerdotales, de las que los primeros responsables son los mismos sacerdotes.

¡Cómo le entristecía encontrarse con alguno que se había despreocupado de esta labor! Porque ese descuido constituye una señal clara de que el mismo sacerdote no está contento con su llamada. Viene a mi memoria su respuesta inmediata a una pregunta sobre las causas de la escasez de vocaciones para los seminarios: «Quizá la primera razón sea que muchas veces los sacerdotes no valoramos bien el tesoro que tenemos en las manos y, por eso, no encendemos en el deseo de poseer este tesoro a la gente joven. Los seminarios estarían llenos, si nosotros amáramos más nuestro sacerdocio» 27.

Su preocupación por la santidad del clero procedía de mucho tiempo atrás. Tenía muy claro que el primer apostolado de los sacerdotes han de ser los mismos sacerdotes: no dejarles solos en sus penas, compartir sus alegrías, animarles en la dificultad, fortalecerlos en los momentos de duda... Conservó grabadas a fuego en su alma aquellas palabras de la Escritura Santa: frater, qui adiuvatur a fratre, quasi civitas firma (Prv 18,19), el hermano ayudado por sus hermanos es fuerte como ciudad amurallada.

Tan intensamente crecía su afán de ayudar a sus hermanos en el sacerdocio, que en 1950, cuando el Opus Dei había recibido ya la aprobación definitiva de la Santa Sede, pensó dedicarse de lleno a los sacerdotes diocesanos. Cuando ya había ofrecido al Señor el sacrificio de Abrahán –pues estaba decidido a dejar la Obra, si hubiera sido necesario–, el Cielo le mostró que no era preciso ese sacrificio. En el espíritu del Opus Dei, que enseña a los cristianos a santificarse en medio del mundo, cada uno en la propia ocupación o tarea, también había el mismo lugar de encuentro con Dios para los sacerdotes diocesanos; bastaba que, en plena comunión con su propio Ordinario y con el presbiterio de la Diócesis, buscasen la santidad en el ejercicio de los deberes ministeriales, tratando con especial veneración al Obispo diocesano, unidos entrañablemente a sus hermanos en el sacerdocio. Las puertas de la Sociedad Sacerdotal de la Santa Cruz, a la que pertenecían ya los clérigos incardinados en el Opus Dei, se ensanchaban para dar acogida a los sacerdotes diocesanos que recibiesen esta específica llamada divina.

Hoy, en estas tierras de La Rioja, donde la labor del Opus Dei se encuentra perfectamente integrada en la Diócesis desde hace muchos años, elevo mi corazón agradecido a la Trinidad Beatísima por los copiosos frutos que también la Sociedad Sacerdotal de la Santa Cruz ha producido y sigue produciendo, en servicio de la Iglesia universal y de las Iglesias particulares. Todo es fruto de la gracia que Dios nos otorga por medio de su Santísima Madre; gracia a la que San Josemaría correspondió plenamente hace ochenta y cinco años, cuando– precisamente en Logroño– recibió la llamada al sacerdocio.


Discurso en el acto académico celebrado el 20 de enero de 2003 en honor del fundador del Opus Dei en el Seminario diocesano de Logroño, del que fue alumno San Josemaría.   

San Josemaría Escrivá de Balaguer: En la Santa Misa, de algún modo, interviene la Santísima Virgen, porque es Madre de Cristo, de su Carne y de su Sangre: Madre de Jesucristo.



Como nuestra Santísima Madre.


 
Yo quisiera, Señor, recibiros con aquella pureza, humildad y devoción con que os recibió vuestra Santísima Madre; con el espíritu y fervor de los Santos.
San Josemaría Escrivá de Balaguer


 

Reflexión diaria



Cristo sigue presente entre nosotros.


 
De modo especial Cristo sigue presente entre nosotros, en esa entrega diaria de la Sagrada Eucaristía. Por eso la Santa Misa es centro y raíz de la vida cristiana. En toda Santa Misa está siempre el Cristo Total, Cabeza y Cuerpo. Per Ipsum, et cum Ipso et in Ipso (por Cristo, con Él y en Él). Porque Cristo es el Camino, el Mediador: en Él, lo encontramos todo; fuera de Él, nuestra vida queda vacía. En Jesucristo, e instruidos por Él, nos atrevemos a decir:Padre nuestro. Nos atrevemos a llamar Padre al Señor de los cielos y de la tierra. La presencia de Jesús vivo en la Hostia Santa es la garantía, la raíz y la consumación de su presencia en el mundo.
San Josemaría Escrivá de Balaguer
Es Cristo que pasa, 102


 

Reflexión diaria

En la Santa Misa interviene la Santísima Virgen.

En la Santa Misa, de algún modo, interviene la Santísima Virgen, por la íntima unión que tiene con la Trinidad Beatísima y porque es Madre de Cristo, de su Carne y de su Sangre: Madre de Jesucristo, perfecto Dios y perfecto Hombre. Jesucristo concebido en las entrañas de María Santísima sin obra de varón, por la sola virtud del Espíritu Santo, lleva la misma Sangre de su Madre: y esa Sangre es la que se ofrece en sacrificio redentor, en el Calvario y en la Santa Misa.
San Josemaría Escrivá de Balaguer

Reflexión diaria



Amemos la Santa Misa como los enamorados.


 
¿Por qué prisa? ¿La tienen acaso los enamorados, para despedirse? Parece que se van y no se van; vuelven una y otra vez, repiten palabras corrientes como si las acabasen de descubrir… No os importe llevar los ejemplos del amor humano noble y limpio, a las cosas de Dios. Si amamos al Señor con este corazón de carne -no poseemos otro-, no habrá prisa por terminar ese encuentro, esa cita amorosa con Él.
San Josemaría Escrivá; Amar a la Iglesia, n.45


 

Reflexión diaria



La Santa Misa cambia la vida.


 
La Santa Misa, bien vivida, puede cambiar la propia existencia.
San Josemaría Escrivá de Balaguer
Carta, 2/2/1945


 

Reflexión diaria



Muestren un amor muy delicado por la Santa Misa.


 
Les ruego que muestren un amor tan delicado por la Santa Misa, que nos empuje a los sacerdotes a celebrarla con dignidad“con elegancia” humana y sobrenatural: con limpieza en los ornamentos y en los objetos destinados al culto, con devoción, sin prisas.
San Josemaría Escrivá; Amar a la Iglesia, n.45


 

Reflexión diaria


 

Recen mucho por nosotros los sacerdotes.


 
Yo pido a todos los cristianos que recen mucho por nosotros los sacerdotes, para que sepamos realizar santamente el Santo Sacrificio.
San Josemaría Escrivá;Amar a la Iglesia, n. 45


 

Reflexión diaria


 

El sacerdote le presta a Nuestro Señor todo su ser.


 
Por el Sacramento del Orden, el sacerdote se capacita efectivamente para prestar a Nuestro Señor la voz, las manos, todo su ser; es Jesucristo quien, en la Santa Misa, con las palabras de la Consagración, cambia la sustancia del pan y del vino en su Cuerpo, su Alma, su Sangre y su Divinidad.
San Josemaría Escrivá de Balaguer; Amar a la Iglesia


 

Reflexión diaria


 

Mientras uno oye Misa no pierde el tiempo.


 
“Mientras uno oye la Santa Misa no pierde el tiempo, sino que gana mucho, por muy dilatado que el sacerdote se esté en el Santo Sacrificio de la Misa”.
San Agustín, Doctor de la Iglesia
“Es tanto el Amor de Dios por sus criaturas, y habría de ser tanta nuestra correspondencia que, al decir la Santa Misa, deberían pararse los relojes”.
San Josemaría Escrivá; Forja, n. 436


 

Reflexión diaria



¿Qué sería yo, si no hubiera comulgado?


 
¡Cuántos años comulgando a diario! Otro sería santo -me has dicho-, y yo ¡siempre igual! Hijo -te he respondido-, sigue con la diaria Comunión, y piensa: ¿qué sería yo, si no hubiera comulgado?
San Josemaría Escrivá de Balaguer